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Pode Um Cristão Genuíno ser Rico?

A bênção do Senhor é que enriquece; e não traz consigo dores. Provérbios 10:22


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A pergunta sobre a compatibilidade entre a fé cristã e a riqueza sempre despertou debates profundos dentro do meio cristão. Muitos se perguntam se é possível servir a Deus e ainda assim desfrutar de prosperidade material. O versículo de Provérbios 10:22 afirma: “A bênção do Senhor é que enriquece; e não acrescenta dores.” À primeira vista, isso pode parecer um endosso à riqueza como sinal da bênção divina. Contudo, a abordagem bíblica da prosperidade é mais ampla do que simplesmente acúmulo de bens. Ela envolve princípios de fidelidade, mordomia, generosidade e, sobretudo, o alinhamento do coração com os valores do Reino de Deus. Para responder se um cristão pode ser rico e se a teologia da prosperidade é bíblica, é necessário ir além de interpretações isoladas e considerar todo o conselho das Escrituras.


A Bíblia não condena a posse de bens materiais, mas alerta constantemente sobre os perigos do amor ao dinheiro. Em 1 Timóteo 6:10, o apóstolo Paulo escreve: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” O problema, portanto, não é a riqueza em si, mas a idolatria que pode surgir em torno dela. O cristão pode, sim, ser próspero financeiramente, desde que sua riqueza seja fruto do trabalho justo, do temor a Deus e usada com sabedoria e generosidade. José, no Egito, foi ricamente abençoado e usado por Deus; Jó foi restaurado com o dobro do que tinha; e Salomão, com toda sua sabedoria, foi também grandemente enriquecido. Em nenhum desses casos a riqueza foi apresentada como condenável, mas sim como uma responsabilidade diante de Deus.


A chamada “teologia da prosperidade” ensina que Deus deseja que todos os seus filhos sejam ricos, saudáveis e bem-sucedidos, e que a fé aliada a ofertas e declarações positivas pode garantir tais bênçãos. Essa doutrina, no entanto, desvia-se do coração do evangelho ao colocar os desejos humanos no centro da fé, transformando Deus em um meio para alcançar fins terrenos. Jesus disse: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33). A prioridade do cristão não deve ser a busca por bens, mas por viver conforme os princípios do Reino. Quando colocamos o Reino em primeiro lugar, Deus supre nossas necessidades conforme Sua vontade e sabedoria.


O exemplo de Cristo é o maior contraste à teologia da prosperidade. O próprio Filho de Deus não teve onde reclinar a cabeça (Mateus 8:20), viveu uma vida simples, serviu aos pobres e morreu entre malfeitores. Se a prosperidade material fosse o sinal maior da fé, então os apóstolos falharam miseravelmente, pois quase todos enfrentaram perseguições, prisões e pobreza. Paulo escreveu aos filipenses: “Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação” (Filipenses 4:12). A verdadeira prosperidade bíblica é viver contente e fiel, independentemente das circunstâncias, confiando que Deus é o nosso sustento.

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Contudo, é inegável que a Bíblia contém promessas de bênçãos materiais associadas à obediência e à diligência. Em Deuteronômio 28, por exemplo, há uma série de bênçãos prometidas ao povo que obedecesse à voz do Senhor, incluindo colheitas abundantes, vitórias sobre inimigos e riquezas. No entanto, essas promessas estavam dentro de um contexto de aliança e fidelidade. O propósito da prosperidade era que Israel fosse uma bênção para as outras nações. Da mesma forma, se Deus concede prosperidade a um cristão hoje, isso deve ser visto como uma oportunidade de abençoar, socorrer os necessitados e expandir o Reino, e não como motivo de ostentação pessoal.


O grande desafio para o cristão próspero é manter o coração no Senhor e não em suas riquezas. Jesus foi claro ao dizer: “Ninguém pode servir a dois senhores... Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mateus 6:24). Servir a Deus requer desprendimento, disposição para repartir e viver com gratidão. A parábola do jovem rico, que se recusou a seguir Jesus por causa de seus bens, é um alerta para todo aquele que deposita segurança nas posses. O Senhor não pediu que todos vendessem tudo, mas sabia que, para aquele jovem, a riqueza era um ídolo. Assim, cada cristão precisa examinar o coração: será que a riqueza que possui está sendo usada para a glória de Deus ou para alimentar o ego?


Portanto, um cristão pode ser rico, desde que sua riqueza não o afaste de Deus, mas o aproxime ainda mais. A teologia da prosperidade, por outro lado, deve ser abordada com cautela, pois, ao absolutizar as bênçãos materiais, minimiza a cruz, o sofrimento e a humildade — elementos centrais da fé cristã. O cristianismo não é um caminho para enriquecer na Terra, mas para ser transformado à imagem de Cristo. E se, nesse processo, Deus conceder prosperidade, que ela seja recebida com gratidão, administrada com sabedoria e usada para manifestar o amor e a justiça do Reino de Deus. Como disse Paulo: “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens” (Colossenses 3:23). A verdadeira riqueza está em viver para Deus, com ou sem ouro nos bolsos, mas com Cristo no coração.


Deus Abençoe!


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Pastor Erik Santana

Graduado em Teologia, com especialização em Episcopologia e Escatologia pelo International Seminary Hosanna Bible School. É autor dos livros cristãos As Quatro Torres (Zonas de Ataque Espiritual), A Nova Criatura, Ensina-nos como orar e Famílias que salvam cidades.




 
 
 

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